domingo, 5 de agosto de 2012

Enfim, reinícios! Bem-vindos os segundos semestres e os rios nos quais nos banhamos e mudamos!



Início de semestre cheira a frescor da manhã num dia de inverno lúdico: somos surpreendida(o)s com uma luminosidade ímpar dos raios do Sol seduzindo-nos para a promessa de novos projetos e ideias, ao mesmo tempo em que nos aquece diante do inevitável que desconhecemos: o devenir das relações professor(a)-aluno(a) e a impermanência diante do fluxo constante no processo de aprendizado


Tudo exala a movimento, renovação e novidade!


Queremos logo saber quais os "novos" livros, compramos novas canetas  e, no meu caso, retroalimento meu estojo - que já é sortido - com as mais recentes inovações de papelaria, limpo meu escritório, revejo bibliografias, leio, leio, leio. Blogo, blogo, blogo. Um mundo de canetas, borrachas, pendrives e papeis se materializa bem diante de nossos olhos, tornando nossa permanência em sala de aula bem mais apetitosa e revigorante. 


Em plena era tecnológica, as surpresas ainda são maiores: para alguns e algumas, novos laptops, ipads, ipods. Celulares que falam, andam, cantam sapateiam e - pasmem - recitam cânticos jurídicos, repisando até mesmo Rui Barbosa em seu mantra inesquecível sobre isonomia na famosa Oração aos Moços (hipérbole, não se assustem).


Não importa se trazemos computadores sofisticados ou penas de ganso com tinteiros (apesar de politicamente incorreto): o que fica, em cada recomeço, é a expectativa de encontrar novas aventuras no maravilhoso mundo da academia. Nada mais democrático do que o local de aula, reunindo a diversidade que, a cada momento, parece reinar em idos de pós-modernidade, deliciosa pós-modernidade que assola os fantasmas da homogeneidade e da mesmice! 


Mudam-se perspectivas, mudamos salas, mas será que nós, especificamente, também mudamos? Veremos agora, no transcurso de nossos processos, que a resposta é um sonoro SIM. 


Semana passada começamos nossos encontros, renovada(o)s pela constância no aprimoramento de nossas existências cá na Terra abençoada. O primeiro dia de encontro gera excitação incontida diante do que se apresenta, para alguns e algumas, como uma novidade ímpar. Afinal, muito(a)s são o(a)s professore(a)s novo(a)s e, com a novidade, vem a marca da inovação, quer seja de método, de linguagem, de diversidade, enfim.


Mas, eis, enfim, duas novidades...


A primeira delas talvez seja algo que nem mesmo mais possa causar espanto em quem não se sensibiliza, mas, para quem está sempre disposta(o) a ver um arco-íris mesmo em dias de trovoada - não é o caso, mas outra hipérbole - quinta-feira assustei-me, no melhor sentido da palavra!


Veio com o ingresso em sala de aula - na mesma sala de sempre, o que trouxe uma pontada de nostalgia, porque, afinal, semestre passado passei meus momentos mais felizes dentro da sala T-02, compartilhando os devaneios jurídicos e os tons de ludicidade com as pessoas que estavam ali desejosas em compreender mais sobre si e sobre o mundo. 


O problema, contudo, de retornar ao mesmo espaço, em tese, reside na impermanência: ainda que a sala fosse a mesma, meu coração, pautado nos neurotransmissores que acalentam a memória emocional, apertou-se, por momentos, diante da inevitável perda, pois, afinal, os alunos e as alunas do semestre passado voaram para outros céus, não sem antes deixarem em mim grandes marcas de aprendizados. 


Furtivamente olhei, de canto de olho, antes de adentrar a sala, para os corredores, tentando observar onde estariam essas pequenas grandes almas abençoadas, para que eu pudesse - quanta ingenuidade! - pegá-las todas e colocá-las em uma caixinha, tomando o cuidado, claro, para que essa caixinha não tivesse paredes ou obstáculos, permitindo, assim, cuidar sem me apropriar de quem me é amado...


Para que caixa então, Alessandra? Não sei, usei a metáfora porque é um clichê conhecido, mas sempre fincada na liberdade de permitir ao mundo seguir seu caminho...


Mas, voltando ao que interessa...


Ainda que a sala T-02 fosse o aconchego de um grande rio de Heráclito, nada ficou parado nesse transcurso de dias, já que tudo fluiu. As águas passaram, bem como as aulas, levando consigo momentos que serão eternizados na vívida lembrança que pode sempre ser revistada. Afinal, já dizia o sábio escrito de Borges, "o conceito de eternidade reside na lembrança"...


Com essa sensação de perda avassaladora, respirei fundo e entrei na mesma sala T-02. Assustei-me. Emocionei-me diante do espetáculo que honraria o mais frígido homem em seu caminho diário: 80-85% da turma atual é composta pelo contingente do(a)s querido(a)s aluno(a)s que estiveram presentes em minha vida semestre passado! 


O somatório de três turmas, reunidas em um só cenário vibrando em uma só escala! O que outrora seria uma turma com pessoas alinhadas, enfileiradas e alheias umas às outras, mostrou-se um palco de pessoas aglutinadas pela amizade que se alinhavou durante o semestre passado, fazendo com que os limites espaciais dos metros quadrados inerentes a cada aluno(a) fosse substituído pelo aconchego e pelo intimismo!


Mesmo com o coração pulsando mais forte, com a vontade de sair bradando por todos os lados quão feliz estava, fomos para a aula, para o reinício, pois, afinal, temos rostos novos também e, com isso, o revigorar de um processo diuturno de troca de ideias. 


Mas o coração, ah! Esse coração que já viu de tudo e por tanto já passou, esse músculo mais forte de todo o corpo, esse não se conteve e, secretamente, cantava, reverberando de mim o que não poderia deixar de ser: FE LI CI DA DE


A sala é a mesma? Sim...


O(a)s aluno(a)s são os mesmos? 


Outro assombro: claro que não!!! Afinal, na máxima de Heráclito, "tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado... Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo...É na mudança que as coisas acham repouso...".


Descobri, com isso, a impermanência na aparência de permanência. Meus alunos e minhas alunas (nossa, quanta posse, pois afinal, nada nesse orbe é meu, de fato) estavam ali, em corpo e alma, com todas as transformações possíveis dentro de um rio que se renova a cada segundo. Notícias de mudanças internas, perspectivas que se transformaram, ideais que se alojaram nos corações. Quantas notícias para tão pouco tempo desde nossa despedida!


Foram espertinho(a)s, pois se solidarizaram em peso para podermos nos reunir novamente...Mal sabem que, com isso, a responsabilidade minha - de fato, nossa - aumenta, a cada dia, pois a cada passo rumo ao Infinito, retroceder é evitar a própria vida


Quando pensei que não teria mais surpresas, outro impacto: um aluno muito querido me abordou no corredor, falando sobre o blog. "Tá precisando botar coisa lá, professora! Tá parado!" - Nossa!!!! 


Genial! Genial e genial! 


Meus alunos e minhas alunas interessado(a)s no que escrevo! 


Não por ser, claro, o que escrevo, mas porque estão curioso(a)s em saber mais, em compartilhar, em buscar o aprimoramento da alma e, com isso, a produção de mudanças internas e externas. 


O mundo e, especificamente, o Brasil, precisam disso, da oxigenação do profissional do Direito, para que as perspectivas de busca da formação jurídica não mais se deem em face de objetivos financeiros ou de status, mas, sim, de MUDANÇAS PARADIGMÁTICAS nas vidas das pessoas!


Com essa animação exalando por cada poro de meu corpo, dedico essa postagem de início de semestre ao querido aluno, ao "anônimo" que me surpreendeu com a chamada à responsabilidade em relação ao que escolhi como caminho perseverante. 


A ele e aos alunos e às alunas que se lançaram em mais um caminho, em mais um semestre, vai meu texto de boas-vindas, desejando que esse seja o primeiro semestre do restante de nossas vidas, fluindo e confluindo na impermanência, para que, numa grande espiral de aprendizado, possamos galgar as estrelas!!!


Bem-vindos e bem-vindas, queridos e queridas!


Alessandra de La Vega Miranda

3 comentários:

Rafaela disse...

Sempre nos inspirando né Professora!!
Obrigada por toda essa recepção, e que este semestre seja muito próspero para todos nós (:
Beijos

hanna disse...

Logo no início do Texto eu ja me apaixonei quanto faz referência a Heráclito. Tenho uma tatuagem na panturrilha esquerda que diz justamente. "panta rei" ou seja, "tudo flui". Filosofia de vida, também será inspiração para as aulas. Afinal, o conhecimento adquirido verdadeiramente não se perde, mesmo que sejam mil os rios da vida.

Abraço, até a aula.
Hanna Gomes

Unknown disse...

Texto inspirador professora.

Obrigado pelo carinho que sente por nós, e com certeza posso falar em nome de muitos: é reciproco!

Abraços

Marcello