quarta-feira, 7 de abril de 2010

Epifanias do meu dia-a-dia advocatício: "kit" sucesso profissional...



Foi muito difícil decidir qual história iria "coroar" o início das epifanias, porque são tantos os momentos de risadas, dores, irreverência, arrogância, ignorância e, sobretudo, bom humor, que ficou muito difícil saber como falaria sobre os vários relatos da minha experiência ao longo de 12 anos de carreira.

Bom, começarei de maneira caótica, falando sobre o dia em que me assustei com a lista de "material escolar" do estágio.

Claro que essa lista é fictícia, mas, dentro do meio jurídico, essencial para o futuro ou a futura profissional do Direito poder adquirir status. Hahaha...

Vejamos.

Foi em 1994, quando estava saindo da Física, acostumada a andar num confortável macacão jeans surrado, com meus lindos cachos soltos ao vento...Encontrei um estágio muito legal, cercada de pessoas legais.

O primeiro dia foi marcado pela observação dos pares, meus colegas e minhas colegas que, assim como eu, buscavam um lugar ao Sol e, com isso, desfilavam seus corpos docilizados ao som de Beethoven...

Logo de cara, meu colega de estágio falou para eu mudar de roupa, comprar unm trailler, usar meia e salto alto. Não poupou esforços em me dizer que meu cabelo precisava urgentemente de uma "escovinha" para "domar a juba", entendem?

Vendo o estereótipo surgir ali, bem à minha frente, comecei a prestar a atenção na produção em série que se dispunha no Tribunal. Foi um festival, que me permitiu montar uma lista com o kit básico para o estagiário(a) estereotipado(a):

1-metrossexualismos, claro, com o cabelo tratado à base daquela química básica, que, além de usar os animais como cobaias, prometem transformar as pessoas em algo diferente do que são. Aí eu incluiria a "armadura" jurídica (a roupa dita "formal", com o terno nada a ver com o clima tropical para os homens e a "couraça" androcêntrica para as mulheres.
2-se estiver recém-formado, ou, quase, o lindo anel de rubi, para que todo mundo saiba que você é advogado(a).
3-caneta Waterman, Mont Blanc ou, na pior das hipóteses, Parker.
4-pasta L. Vitton, Prada, enfim, algo que use pele e MATE mais animais
5-celular, ops, desculpem, I-pod, Cel-pods, tudo-pod.
6-carrão do ano, para todo mundo ver, invejar e comentar.
7-expressão facial séria, num mix de arrogância "bala-que-matou-Kennedy" com um que de sensualidade discursiva, para que o entendimento seja levado para o campo subliminar. Aí, eu aconselharia trabalhar as piadinhas de duplo sentido e testá-las no espelho, diante do seu ego.

Essa lista, confesso, chocou-me, porque, dentro desses 12 anos, penso que muito pouco mudou nos corredores dos tribunais, à exceção, claro, da incompetência, porque essa tem sido a constante numa bem bolada equação, que pode ser expressa assim:

f(c) = n.f(a) x t.f(npav), onde f(c) é a função da competência profissional, diretamente proporcional a uma função de arrogância, multiplicada pelo número de vezes que a pessoas não prestou atenção na vida.

Essa lista, contudo, serviu para que eu pudesse, ao longo da vida, ficar em paz com minha essência e, com isso, buscar minha identidade. Brinco sempre com ela, mas, na verdade, vejo que reflete o estereótipo com o qual somos vistos e vistas pelas outras pessoas e, sobretudo, por outros profissionais do conhecimento. Acho muito importante parar para observar como as pessoas vêem a figura do advogado...Será mesmo que somos deuses e deusas etéreos e etéreas? Duvido...

6 comentários:

Carolina disse...

Parabéns pelo blog,Alessandra!:)

Carolina disse...

Parabéns pelo blog,Alessandra!:)

Unknown disse...

Essa fórmula é perfeita! Tudo o que leio seu me faz lembrar de vc falando e gesticulando nas aulas e corredores da UnB. Seu humor, adicionada a sua inteligência trazem reflexões interessantes e, por vezes, engraçadas!
Parabéns!

Daniel Tôrres disse...

Alessandra,

Como sempre sua língua felina revela a obscuridade que os profissionais do Direito insistem em menter. esse kit é sensacional, acho que seria bastante interessante, publicarmos ou melhor confeccionarmos esse kit, e distribuir nas faculdades, OAB e Tribunais.
Acho que a adesão sera grande. o que achas?
Mais uma vez parabéns.

Alessandra de La Vega Miranda disse...

Não tenho a imagem de ser uma pessoa com língua "felina", vendo-me apenas como alguém que expõe e se posiciona perante a vida, o mundo, as instituições. Ao que sei, língua "felina" é algo que se fala a respeito de uma opinião que atinge e, dentro disso, minha finalidade não é atingir pessoas, mas questionar construtos, institutos, ciência. Mas claro que sei que a carapuça desce, e, dentro disso, talvez seja uma forma auto-reflexiva de promover meu amadurecimento em relação ao Direito.

Unknown disse...

Quando li este texto, no final sorri, pois estava me vendo nele. Você é dez, fala com a alma. Um grande abraço, Áurea.