quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Fim de ciclo: feliz reencontro!

Com o fim de um ciclo, vem a virada para a espiral de início-meio-fim...

Guardamos as canetas, reunimos os cadernos utilizados, colocamos os livros ali, bem no cantinho da prateleira, para o merecido descanso de férias, pois o ano rendeu muitos frutos, bem como muito dispêndio de energia para alcançá-los...

Poderia iniciar com as mesmas assertivas de sempre, desejando PAZ, SAÚDE, FELICIDADE, AMOR, mas não iniciarei esse desejo potencializado assim, para, ao contrário, fazer de outro modo.

O que desejo?


Primeiro, não mais quero e não irei DESEJAR...

Quero construir e, se o caminho for de identidade em relação ao que meus alunos e minhas alunas percebem, então que construamos!!!

Que o novo ciclo traga, em seu final, perguntas:

O que PESSOALMENTE PODERIA TER FEITO PARA SER MENOS EGOCÊNTRICO, MENOS VÍTIMA, MENOS EGOÍSTA, MENOS RECLAMÃO, MENOS LAMURIENTO, MENOS CRÍTICO, MENOS SAGAZ???

ESPEREI ONDE NÃO DEVERIA TER ESPERADO?

GEREI EXPECTATIVA EM CIMA DAS OUTRAS PESSOAS?

SOU CONSCIENTE DE MEUS ERROS?

MAGOEI ALGUÉM?

COMPREENDI O ERRO ALHEIO?

DESEJEI QUE O MUNDO SE COLOCASSE AOS MEUS PÉS, NOS MAIS BOBINHOS DESEJOS PUERIS?

CRESCI?

AINDA SOU UMA CRIANÇA, IMATURA?

TOMEI AS RÉDEAS DA MINHA VIDA?

MELHOREI MINHA ESTIMA NO DEDÃO DO PÉ?

O QUE PENSO SOBRE MIM? PENSO?

PENSO E SINTO DE MANEIRA COERENTE?

SOU ILUDIDO(A)? COLOCO E PROCURO ATRIBUIR SEMPRE CULPA AOS OUTROS, E NÃO A MIM?

OU PASSEI O ANO...........JULGANDO PEJORATIVAMENTE?


ACHANDO QUE ESTOU SEMPRE CERTO(A)?

ATRIBUÍ CULPA E CONDENANDO OS OUTROS POR FALHAS QUE SÃO MINHAS?

COLOQUEI-ME NUM PATAMAR DE SUPERIORIDADE PARA ENCOBRIR MINHA PEQUENEZ?

COLOQUEI-ME COMO VÍTIMA DO MUNDO, DO SISTEMA, DA VIDA?

PREVALECI-ME DA HIPOSSUFICIÊNCIA DOS OUTROS PARA EXERCER CONTROLE, AUTORITARISMO, DOMINAÇÃO?

VITIMIZEI-ME, ADOECENDO, PARA QUE TODOS FICASSEM AO MEU REDOR, À MINHA DISPOSIÇÃO, PORQUE EU EU EU EU EU EU EGO EGO EGO EGO EU EU EU EU EGO EGO EGO SOU MAIS IMPORTANTE DO QUE SIMPLESMENTE O INFINDÁVEL UNIVERSO E SEUS SEGREDOS?????????????

PASSEI A MAIOR PARTE DO ANO FALANDO E ME CONVENCENDO SOBRE MIM MIM MIM MIM MIM MIM MIM????????

AS PALAVRAS MAIS DITAS FORAM EU, MIM, MINHA, SOBRE MIM, ACHO , ISTO É, AS COISAS SÃO........??????

Acho que esse é, de coração, o que projeto por agora para a elaboração de uma pauta do acadêmico e futuro profissional - consciente - do Direito: o olhar em relação ao que cada um construiu para sua vida, a partir da auto-reflexão.

Assim amigos e amigas, que esse final de ano possa trazer para os corações de todos nós mais conscientização de nossa condição humana, de nossa construção de individualidade.

Que todos nós possamos deixar de adoecer com as palavras engasgadas em nossa boca, que possamos ser honestos com nossos sentimentos, falando-os e conversando sobre eles.

Que possamos retirar de nós o cancro da nossa própria ignorância em relação à nossa vida, para que, por intermédio da compreensão de nossos déficits, possamos construir sempre, um futuro melhor.

Que a CULPA, A SEMPRE MALFADA CULPA, CEDA ESPAÇO À COMPREENSÃO DAS ESCOLHAS DOS CAMINHOS, PORQUANTO A ESCOLHA E A LIBERDADE DE ESCOLHA SÃO O QUE NOS FAZEM DIFERENTES RUMOS A QUALQUER EVOLUÇÃO....

Que possamos fazer as pazes com nossos instintos, nossa intuição soterrada pela tecnocracia.....

Que possamos ajudar o próximo, sim, mas, primeiro, ajudando-nos, pois a ajuda ao próximo, com a anulação de nós mesmos não é caritas, é cegueira derivada de nossa baixa-estima, bem como da carência e do medo do escuro, apanágio da morte e da destruição.

Que possamos sentir, e NÃO MAIS PENSAR, em acreditar em algo, pois, fazendo as pazes com nosso sentir, a divindade nos alcança e nos cinge de bençãos....afinal, fé e crença não são dedudíveis da racionalidade, mas, sim, da projeção de amor que se é sentido.

Que possamos nos conhecer, para que possamos entender, ao menos, o que é tal sentimento.

Que a egrégora da conscientização e da retirada do véu da hipocrisia e da ilusão sejam determinantes....

E, principalmente, que toda essa vontade que move meu coração atinja aqueles que assim manifestarem vontade, porque, afinal, minha vontade não pode prevalecer sobre a exata medida da intrínseca liberdade com que cada um de nós exerce sua escolha!!!!!!!!

Que possamos saber para qual porto estamos nos dirigindo, pois, como disse Sêneca, “Quando um homem não sabe a que porto se dirige… nenhum vento lhe é favorável…”

Que possamos olhar para o espelho, com orgulho e humildade, sabendo que a despeito de sermos tão, mas tão mal resolvidos com nossos problemas existenciais - a começar por não termos consciência de quem somos - podemos sempre melhorar.....

Que possamos ser MAIS GRATOS PELO SOL QUE NASCE A CADA DIA, PARA O QUAL QUASE NUNCA OLHAMOS, POR ACHARMOS QUE ELE ESTÁ LÁ É PARA CUMPRIR TABELA E NOS SERVIR.....

QUE POSSAMOS SER MAIS GRATOS PELAS FLORES QUE ESTÃO AÍ NAS RUAS, AO INVÉS DE LANÇAR OLHAR DE ROTUNDA MORTE....QUE POSSAMOS NOS SENTIR ABENÇOADOS PELA CHUVA QUE DEIXA BRASÍLIA VERDE......QUE POSSAMOS SER GRATOS....GRATOS, GRATOS GRATIDÃO PELAS BRONCAS, GRATIDÃO PORQUE ALGUÉM SE PREOCUPA EM MOSTRAR NOSSOS ERROS E FALHAS.

Que possamos sentir e praticar o despojamento na profissão, pois, afinal, ad vocare é chamar ao lado de alguém, colocar-se ao lado de quem não possui voz para clamar pelo hipossuficiente, num compromisso com a humildade, o respeito ao próximo, a busca da fraternidade, da solidariedade, da construção em comum de um futuro melhor.

Que possamos compreender ser o advogado, por excelência, o profissional que se despoja de seu interesse para salvaguardar o destino daquele que está assistindo. Ofício que, de tão nobre, encontra-se no art. 133 da Constituição Federal. O único munus que é erigido à composição da Magna Carta, como atividade indispensável ao cumprimento dos ditames de Justiça.

Com isso, que internalizemso, sem medo, a ideia do sacerdócio, apontando para a necessidade de desvinculação anímica de um materialismo que expõe, crua e friamente, a vaidade humana perdida num campo nebuloso de valores esgarçados.

Talvez, quem sabe, o sacro ofício conclame todos aos céus para a prostração devocional, e que, a cada dia, o aprendiz possa fazer romper em si a castidade de propósitos, para que a sabedoria possa escoar até o coração transmutando, por fim, essa máquina individualista em um ser que saiba, ao menos, o significado de compartilhar.

Isso tudo me faz lembrar dos tempos de estágio... A Assistência Judiciária no Paranoá mostrou o fel da advocacia “sem glórias” para os que desejam apenas o estrelado: não havia dinheiro e, com isso, tudo que ali era produzido contava apenas com todo o amor que pode guiar uma pessoa na busca pela compaixão em relação ao semelhante.

Foram tantas escovas e pastas dentais trazidas para os “clientes” poderem fazer sua higiene!

Ah, grandes lições! Lições de humildade, parcimônia, de subserviência, nas latrinas limpadas no Paranoá! Sim, claro, limpar o vaso era mesmo um serviço prestado na Defensoria, pois era necessário para depurar a alma das mazelas dos egos acadêmicos saltitantes, afoitos e incongruentes!

Valiosa lição. Talvez a mais perfeita lição de humildade, gravada carinhosamente a ferro e fogo na alma, trazendo, a cada dia, o despojamento para retornar à sala de aula com muita história a contar para os colegas alheios a tudo que envolve o próximo: este ser tão distante de nossas residências e vidas.

Poucos eram os desejosos em compartilhar sua vida com quem necessitava. Mas, ao contrário e, por ironia, muitos eram os acadêmicos que pretendiam lapidar o conhecimento para a busca da sucção do vil metal do desafortunado cliente que batesse à porta, visando obtenção de status, sucesso, êxito, sexo, poder, opressão, humilhação...

Engraçado, porque nesse universo existencial de almas vazias de outrora não se indagava em relação a quê estaria dimensionado o status. Em relação a quê adviria o sucesso. Por fim, a custa de quê seria empreendido êxito.

Hoje salta aos olhos – marejados de lágrimas - a futilidade de tudo isso no caminho tortuoso que está sendo trilhado por nossos alunos.

Desejo, ainda, que meus alunos e minahs alunas - que tão pacientemente escutaram o que tinha a compartilhar, continuem sendo ímpares no caminho de lapidação de alma que iniciamos juntos, pois existe muito a ser feito no embate com a miopia egóica sem precedentes que assola o mundo jurídico.

Diria até que a miopia transmudou-se para um verdadeiro “autismo acadêmico”, isolando o profissional do Direito numa torre alta, escura, fria e robótica de ignorância, de falta de compromisso com algo que não seja seu umbigo.

Dentro disso, que o poder inerente ao conhecimento haurido em sala - e na vida - possa ser compreendido para além do preceito de egoísmo. O poder que circunda o conhecimento é para quem consegue acessar o conhecimento. Para quem não tem preguiça, raiva, ódio, piedade em querer aprender. Não são todos os que estão dispostos ao percurso dolorido e calejados do sacerdócio.

O sacrifício oriental do despojamento de si para a aquisição de método, de humildade, de aprendizado. Não, esse universo não é para os que se julgam merecedores, mas, antes, é para quem está disposto a abrir mão do conforto de sua vidinha em prol da magnitude de se descobrir um ser pensante.

Foi por essa razão - e não outra - que passei o semestre, ao invés de colorir as aulas com os casos sensacionalistas de sucesso, dedicando cada encontro à exposição dos erros cometidos nas épocas em que, pretendendo ser reconhecida, deixava o ego saltar para entoar cânticos de vitórias, pois o apelo mnemônico de aprendizado não advém das vitórias, mas, antes, reside nos fracassos que lembram a necessidade de calmaria do espírito.

Desejo, enfim, que os devolva - cada um de vocês - à casa parental melhores, como seres humanos melhores, pois, o Direito, para mim, não é um instrumento de conclamação de direitos, a priori, mas, antes, uma via humilde de reflexão sobre nossos deveres. É da fidelização do dever para com um ethos de melhoria de si que podemos repensar o coletivo.

Boas férias!

Alessandra de La Vega Miranda, em uma madrugada de dezembro d 2011.

4 comentários:

Anônimo disse...

Concordo no todo, com a veneranda mestra.
Tão "novinha" e já semeando na vida as melhores sementes em forma de conhecimentos para frutificar magníficos pomares.
Novinha entre aspas significa que a rigor ninguém é novo.
Trazemos inscrustrados na alma multimilenares erros e acertos.
Compete-nos pela melhor educação obtida, fazer ressaltar um ou outro.
Em toda profissão podemos ser mercenários ou sarcedotes, é uma questão de potencialidades.
Felizmente esta professora, enquanto educadora, tem procurado ressaltar o lado altruístico da profissão, mostrando que não devemos desistir de lutar por um mundo melhor, porque efetivamente depende de nós.
Penso que no fundo ela quer dizer que, não devemos pagar o mal com a mesma moeda, pois assim a barbárie não terá fim.
E lutar por um mundo melhor é dar a outra face.
Felizmente, o bem também é contagiante, ela me contagiou.

Anônimo disse...

Olá
Conheci Cesar Lombroso como autor espírita.
CÉSAR LOMBROSO

HIPNOTISMO E MEDIUNIDADE
Sinopse da obra:

"É uma obra que causou grande agitação nos meios intelectuais e científicos da Itália, no início do século XX, pois César Lombroso afrontando preconceitos engenhosamente construídos por contraditores da Doutrina Espírita faz avançar o domínio do Espiritismo Experimental trazendo provas irrefutáveis da imortalidade da alma.

Relata pesquisas com fenômenos ocorridos sob hipnose e fenômenos mediúnicos sendo que demonstra a diferença entre eles, incluindo numerosas experiências com a famosa médium Eusápia Paladino.

Oferece subsídios aos estudiosos do assunto, abordando os seguintes temas: mediunidade entre os selvagens e os povos antigos, estigmas e levitações dos santos, magos, bruxos, histeria e magia, fotografias transcendentais, casas assombradas etc."
http://www.autoresespiritasclassicos.com/Autores%20Espiritas%20Classicos%20%20Diversos/Cesar%20Lombroso/Hipnotismo%20e%20Mediunidade/Cesar%20Lombroso%20Hipnotismo%20e%20Espiritismo.HTM

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=w4TQtZKog2Q

Caríssima mestra, a visão deste juiz vai ao encontro do teu olhar o réu.
Vale a pena dar uma olhada.

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=w4TQtZKog2Q

A visão deste juiz vai ao encontra do olhar da mestra.

Vale a pena ver.