terça-feira, 16 de outubro de 2012

O discurso patriarcal nas relações inter-gêneros e as eleições na OAB/DF


"Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão"
PAGU - Rita Lee



O Estado brasileiro vem experienciado um momento ímpar de alocação da mulher para o espaço político, mostrando, nos últimos 6 anos (tomo como ponto de partida, e não chegada, o ingresso da Lei 11.430/06 em nosso ordenamento jurídico), manifesto compromisso com uma pauta internacional de valorização, que preza, sobremaneira, o enfrentamento à violência de gênero, familiar e contra a mulher, bem como a adoção de estratégias de conscientização acerca das conquistas dos últimos 40 anos de lutas do movimento feminista e dos movimentos de mulheres em prol da equalização.

Para qualquer lugar de fala em relação ao qual nos voltamos, nítidos são os compromissos firmados - em sede de Governo Federal, Distrital, organizações não governamentais, instituições etc - em torno da imperiosa necessidade de se desconstruir a ideia - petrificada ao longo de milhares de anos de submissão histórica - de inferioridade política da mulher, tida como sujeito invisibilizado pela voracidade masculinista. 

O masculinismo se firmou - ao longo da trajetória ocidental e, mais especificamente, como reflexo de um estrutura hegemônica colonial a qual o Brasil se contextualizou em seu processo de elaboração histórica - ao arrepio de compartilhar, pari passu, processos políticos de mútuas implicações de respeito, alojando-se - ora por via de verdadeiros sistemas econômicos (leia-se patriarcado) - ora pelo aporte simbólico do androcentrismo que lhe dá guarida - à reificação e vulnerabilização da mullher, em vários nichos, bem como nos mais distintos cenários de produção cultural, científica, política e acadêmica, excluindo-se da produção e reflexão de saber e conhecimento politicamente institucionalizados ante a prevalência de espaços fortemente marcados pela perpetuação de um paradigma que homogeniza e não incorpora – sob a bandeira do androcentrismo - a construção social do masculino e do feminino.

Discutir essas bases é importante, mormente se considerarmos, no caso brasileiro, a insistência na reprodução de um modelo que impõe como condição à mulher uma expectativa (exigência) de se “comportar” de acordo com um molde que a discrimina, minando-lhe a potencialidade de se desenvolver em patamar de igualdade em relação ao homem

Isso fica bem nítido nas recorrentes naturalizações mais comuns: reprodução como obrigação, e não como opção, fardo na educação da prole, comportamento moralizado, julgamento, divisão de tarefas segundo um binômio. Tudo acenando para a perpetuação de padrões que ordenam uma acessoriedade à mulher, silenciando-a como sujeito e titular de cidadania exercitável em sede de espaços de poder. 

Em face de tais cristalizações, bem como diante da paulatina tomada de consciência levada a cabo pelos movimentos de mulheres e feministas no mundo e no Brasil, nosso país, cada vez mais, tem visibilizado a mulher - nós, mulheres, em nossas diferentes demandas, tudo, ao que parece, acenando para uma vanguarda de diálogo com novos horizontes nas políticas de equalização de gênero.

Tudo, menos a postura ortodoxa, androcêntrica e desqualificatória do movimento que baliza a pretensão da atual gestão da OAB/DF em se firmar em um segundo mandato. Isso porque, enquanto o Brasil perfilha uma política pública de equalização de gêneros, para sair da cifra de ser o campeão, dentre 54 países, em agressão à mulher, o movimento da gestão atual está na contramão das conquistas em prol da valorização da mulher, expondo, como troféus, modelos em pleno TJDFT para "validar" - em nível subreptício - as propostas que apresentam. 

Para quem viu - ontem eu vi - a submissão, o subjugo do feminino era de tal sorte que as moças ficavam atrás, como paisagens...Nessa cena, em especial, o contrafluxo da emancipação da mulher nos espaços públicos e de poder: o machismo e a desqualificação realizada na campanha eleitoral, por meio da alocação de modelos para ficarem "de enfeite" para o movimento que baliza a atual gestão. 

Um aporte feito à guisa do mais total desespero, partindo do pressuposto de que a mulher é objeto a ser colocado como aporte para que se possa transformar a racionalidade do "macho" em instrumento para convencer o eleitorado a votar nesse grupo... 

Por muito menos isso, em um país que honra a equalização de gêneros - daria uma bela representação. Impugnação até...Mereceria, num patamar crível de seriedade, uma MOÇÃO DE DESGRAVO, tendo em vista que, em pleno século XXI, dentro do qual as conquistas das mulheres - não raro, elaboradas com dor e sofrimento - veem logrando êxito na modificação do olhar do mundo para conosco, ainda se chancele algo tão pífio e rasteiro...

Uma campanha assim, desqualificando tanto as mulheres. Eu me pergunto como, como, como existem mulheres que votarão em uma coalizão que, além de ter um número diminuto de mulheres, ainda se vale de um artifício tão desqualificador...

A luta é muito mais profunda do que ousei, um dia, imaginar, pois ela passa pela tomada de consciência, em nível institucional - por meio das advogadas que, observando isso, não podem nem devem validar uma estrutura machista desse aporte - bem como em nível social e coletivo, repensando uma nova OAB/DF, firmada em bases mais democráticas...


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