domingo, 11 de abril de 2010

O pé jurídico no chão...E a cabeça no Universo!

Ontem voltei a fazer o que mais gosto, advogar...

Ops, como? "Já não advogas, Alessandra?" - pensarão algumas e alguns - "Desde 1998?". Claro, claro, mas preciso ser mais explícita.

Na faculdade passava boa parte do tempo imersa na militância estudantil, pois concorri, em 1996, para o Diretório Acadêmico, encabeçando uma chapa composta apenas por mulheres. Lembro-me que, durante a campanha, fui interpelada pelo adversário que, no ápice de seu preconceito, afirmou para mim que "uma chapa de mulheres não poderia fazer muito mais do que discutir sobre cabelos e unhas".

Foi, então, que percebi, 14 anos atrás, como aquela mobilização incomodou, não só o adversário, como, também, toda a comunidade acadêmica. Isso foi muito bom porque, em certo sentido, foi o prenúncio da trajetória de me lançar na vida despojando-me de vários preconceitos...

Do diretório segui para a Defensoria do Paranoá, onde me vi atendendo as pessoas e, depois do expediente, lavando o banheiro de nosso uso pessoal (o Tribunal não oferecia). Lembro-me que, em alguns momentos, eu ia para a Defensoria de macacão jeans justamente para fazer a faxina. Nossa, que espetáculo isso! Acho que o estágio no Direito poderia contemplar a limpeza de latrinas, para que possamos olhar nossas fezes de vez em quando...

Ali fiquei por dois anos e meio, seguindo, depois, para a conciliação e, mais uma vez, inserindo-me em uma comunidade, adetrando e percebendo realidades. Mas, acima de tudo, saí um pouco do meu etnocentrismo e da arbitrariedade com que o Direito pretende formatar - a fórceps - a realidade circundante.

Encontrar pessoas e se abrir para sentir a sensibilidade alheia: falat muito isso em nosso meio, como, de fato, a "cientificidade" parece cegar algum tipo de profissional do Direito, que não olha muito além do seu umbigo...

Ontem, no atendimento, percebi o quanto somos seres sensíveis e no quanto assumimos patéticos papéis de "resolvedore(a)s" de problemas sem "pedirmos licença" para a dor dos outros e das outras.

Isso é realmente um treinamento: somos adestrados e adestradas para o fornecimento de soluções "jurídicas", em cima de uma meia dúzia de "princípios" que erigimos a uma categoria de construtos universais hábeis a reger todo um espaço de convivência (e de conflito) sem passar por um diálogo ou uma abertura com a dimensão de reconhecimento de interesses dentro de demandas individuais ou sociais. Daí, com a mesma impáfia, celebramos o império da contradita e chamamos essa "fuzarca" de argumentação, onde é a destruição do outro (parte ex adversa, enfim, hehe) é o sangue que se coloca em nossa boca.

O prestígio do sistema da contradita abandona o encontro de almas e de diálogo, porque estabelece uma oposição que nada tem de dialética: ao contrário, pretende suprimir a diferença, pelo aniquilamento de teses. Será mesmo que a vida é uma "guerrilha de teses"?

Professor Kant de Lima afirma que o mundo empírico e, mais precisamente, o fato, é arbitrário. Por que, então, insistimos na manutenção de um mundo platônico, que paira por sobre nossas cabeças e pretende dialogar com Justiça, ao mesmo tempo em que fere, apunhala e destrói a diferença?

Não sei, mas confesso que, por pensar - muito, muito - e, acima de tudo, por ser uma profissional que vem do cotidiano da militância, tenho muitas reservas (e preconceitos que preciso trabalhar) em relação ao "maravilhoso mundo-da-lua" em que podemos nos achar e perder...

2 comentários:

Anônimo disse...

E qual o contato, professora, para auxílio jurídico?

Alessandra de La Vega Miranda disse...

Boa, valeu a dica!
Postei meu contato em QUEM SOU.
Grata!