quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um dia de audiência a mais, um dia de etnografia a menos...

Acho que a pesquisa de campo bem pode se transformar em uma narrativa autobiográfica, pois estou vivenciando verdadeiras pérolas, que me fazem, o tempo inteiro, rever uns valores e consolidar outros.

Ontem fui a campo para observar uma audiência e, dada hora, em que estava conversando calmamente com um aluno, fui cometida por uma sensação muito intensa... o devenir da morte. O mais engraçado que essa mesma sensação foi partilhada com o advogado do autor do fato, bem como com o promotor de justiça, porque, cada qual segundo sua configuração sensível, percebeu o fenômeno de maneira diferente.

Não obstante isso, todos sentimos a proximidade da morte...

Foi em uma audiência de justificação na Maria da Penha, onde o autor do fato amolou uma faca e mostrou para a esposa, a enteada e o marido desta. O senhor estava visivelmente alterado em face do álcool e a senhora, por sua vez, desejava vinte mil reais para ir embora. Não queria sair da casa para morar com a filha.

Desejava ficar ao lado do esposo - mesmo sendo advertida que isso poderia custar sua vida - pois, segundo ela "se saísse de casa, a família do esposa iria tomar de conta da casa". Acho que falhei como etnógrafa, mas, ao final, fiz minha parte como cidadã, pois bastou um olhar do magistrado para que eu me oferecesse para conversar com elas a respeito do evento.

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